O soldado ferido

O soldado ferido

domingo, 11 de novembro de 2007

História

Estava lendo algumas peças pelos sites, quando me deparei com uma, cuja a história era sobre guerra. Os soldados enfrentavam os inimigos que representavam os pecados. Então surgiu a idéia de fazer uma peça em que o inimigo representasse o diabo, assim como realmente é. Mas por outro lado, por vezes nós também nos tornamos a maior barreira entre nós e a vontade de Deus, devido as divergências de doutrinas, a desunião do povo de Deus (exército) e a falta de discernimento.
Com isso fizemos uma pesquisa e descobrimos um movimento que já existia a muitos anos: O movimentos da batalha espiritual.
Procuramos ver o enfoque dos dois extremos, dos tradicionalistas e dos neo-pentecostais a respeito do assunto.

Objetivo

O objetivo da peça é exortar a igreja a desenvolver mais o fruto do Espírito, e a procurar ajudar a todos que necessitam, principalmente aos irmãos que se desviaram. Independentemente do que tenham feito no passado, a Igreja deve procurar trazê-los de volta à casa do Pai, para que sejam totalmente restaurados.
A igreja deve agir com amor, deixando de lado as aparências, as doutrinas distintas, a ignorância das pessoas e os interesses pessoais. E procurar cada vez mais a comunhão com o Senhor pela leitura da Palavra e pela oração.

1 Pe 5:8 Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;
9 Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.
10 E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.
11 A ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém.

Efe 6:12 - Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.

1Pe 1:22 - Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro;

Resumo

Realese da peça "O resgate do soldado Silva"

Em pleno front, dois soldados (soldado Guerra e soldado Neves) tem a missão de resgatar o soldado Silva, que está muito ferido depois de ser capturado pelo inimigo.
Os dois, porém, possuem conceitos radicalmente diferentes a respeito da guerra, e do comportamento do soldado Silva por ter sido capturado. E com isso não executam a sua missão.
Em meio à guerra um homem, apelidado de Marreco, passa totalmente despreocupado e despreparado, com a finalidade somente de ir à praia.
O inimigo camuflado também surge perto deles, que não conseguem perceber a sua presença.
Surge o soldado Cruz, para a missão que os dois não deram início. Ele é o único que percebe a presença do inimigo e o põe pra correr.
Soldado Cruz finalmente resgata o Soldado Silva e o leva até o quartel, a mando do próprio General.

Dados da peça

- 8 Cenas
- 6 personagens mais os anjos

- Duração de 45 minutos a 1 hora

sábado, 10 de novembro de 2007

A Peça

O Resgate do Soldado Silva

Personagens:

Soldado Guerra (neo-pentecostal)
Soldado Neves (tradicional)
Marreco (simpatizante do Evangelho, sem compromisso)
Inimigo (Diabo)
Soldado Cruz (Crente em comunhão com Deus e comprometido)
Soldado Silva (crente desviado)
Anjos


1ª Cena: Soldado Guerra e o Soldado Neves

Cenário:
Durante a noite, tiros de metralhadoras, granadas, aviões bombardeando.
Durante o dia, no meio de um campo de batalha, onde existe uma trincheira composta de sacos de areia, arame farpado e tudo mais.

Guerra – (Entrando e se atirando atrás da trincheira) Conseguimos chegar aqui!

Neves – (Entra com a arma em punho) Caramba, como você corre!

Guerra – Se abaixe logo! Esqueceu que estamos em uma guerra?!

Neves – (Se abaixando) Se acalme , soldado Guerra. Está tudo sobre controle. Puxa, como
estou cansado...

Guerra – Controle? Controle? Controle soldado Neves?! Você está maluco!! Alguma bala acertou o seu cérebro?

Neves – Claro que não!

Guerra – Você não sabe que estamos em território inimigo? Ou você acha que estamos fazendo um piquenique no front?

Neves – Você não reparou que não há sinal de inimigo nenhum por aqui?

Guerra – Como você pode ter certeza? Como você pode ter certeza?

Neves – Olhe ao redor e veja se encontra algum?

Guerra – Ora, soldado Neves, você nunca ouviu falar da guerra do Vietnã? Que o inimigo ficava camuflado, escondido em qualquer lugar? Inclusive, pode ter um atrás desta trincheira. Dê uma olhada, soldado Neves.

Neves – Eu não! Olhe você.

Guerra – Soldado Neves, não é hora de ter medo.

Neves – Vai você! Você que teve a idéia.

Guerra – Você não leva fé no que eu falo. Deixa que eu vou ver.
Soldado guerra espera um pouco e subitamente vai ao outro lado da trincheira se jogando ao chão e gritando com a arma em punho.

Neves – E aí, algum inimigo?

Guerra – Não.

Neves – (Levantando-se) Eu não te falei? Mas você tem uma mania, ein?!

Guerra – Pelo menos eu tenho iniciativa. Né, Soldado Neves?! Se fosse por você, não estaríamos aqui para cumprir a nossa missão. E pior, o General tira de quem não faz e dá para quem realmente a cumpre. E ele confiou a nós a tarefa.

Neves – Você tem iniciativa demais para o meu gosto... Agora, se eu te falasse que tem um inimigo atrás de você?

Guerra – (Após um momento estático, vira-se rapidamente) Aonde? Onde está o canalha?

Neves – (aponta pra sombra dele) Aí! Aí perto do teu pé!

Guerra – (Ameaça a bater com a arma, mas para no meio) Soldado Neves, mas esta é a minha... sombra! (Soldado Neves sorri) Soldado Neves, você está brincando com coisa muito, muito, muito séria?

Neves – (Sorrindo) Guerra, você não existe! Só você pra me fazer rir.

Guerra – Eu devia ter vindo sozinho, seria bem melhor.

Neves – Mas acontece que estamos juntos aqui, no meio dessa guerra. E vamos cumprir a missão de resgatar o soldado Silva. Mas por enquanto, vamos descansar um pouquinho (se prepara para deitar).

Guerra – E essa missão não é a das melhores. Bem que o General me falou que nos enviaria como ovelhas para o meio de lobos. Portanto não devemos vacilar, e nem ficar brincando, né soldado Neves? Devemos estar atento a todo tempo e a todas as coisas.

Neves – É. Mas não precisa ficar de paranóia, não. Por enquanto está tudo calmo, tranqüilo. Aproveita pra tirar uma sonequinha também.

Guerra – Paranóia? Paranóia? Você não entende nada! Bastou você se alistar, pra fazer parte dessa guerra terrível. E você não batalha só contra o inimigo, não, soldado Neves, contra a tua mente, e o teu coração também. Você tem que dar o teu suor, o teu sangue!

Neves – Poupe suas palavras soldado Guerra, pois eu sei muito mais do que você pode imaginar.

Guerra – Pois não parece. Pois não parece! Por acaso você não leu o nosso manual de combate, as instruções vitais que precisamos para esta guerra diária?

Neves – Assim não dá pra tirar uma sonequinha, esse cara não dá um sossego. Claro que já li! Já tem algum tempinho... Mas pelo o que me lembro, observei que você vai além do que diz no manual. E não é assim. Contenha-se somente ao que está contido no manual que nos foi apresentado.

Guerra – (Riso de deboche) Vêm você me falar do manual de instruções? Vêm você me falar do manual de instruções? Ora, ora Soldado Neves, você lê tantos livros auxiliares e não faz nem a metade que o manual ensina. Pelo menos eu faço!

Neves – E faz errado!

Guerra – Contigo não adianta... Agora, não estamos aqui para ficarmos discutindo, vamos traçar uma estratégia para finalizar a missão.

Neves – (pensativo) Hum... Deixa-me ver...

Guerra – Bom! Eu já sei o que vamos fazer. Vamos continuar entrando pelo território adentro, até encontrarmos o soldado Silva. E aparecendo os inimigos, a gente captura e vai amarrando todos eles.

Neves – Que entrar no território adentro o que, Guerra?! Que idéia mais doida. Vamos ficar por aqui mesmo. Vamos ficar na boa. Sabe como é, no sossego. Uma hora ele aparece. Afinal, quem é vivo sempre aparece, não é?

Guerra – Você vai querer um suquinho? Uma pizza? Quer assistir um DVD?

Neves – É o que está faltando aqui. Todo o pelotão aqui reunido, numa comunhão gostosa, conversando, trocando uma idéia, se divertindo, comemorando... é o que eu mais gosto no quartel.

Guerra – Comemorando o que, posso saber?

Neves – Há, qualquer coisa. Isso é o de menos.

Guerra – Acorda soldado! Põe o pé no chão. Nós estamos no meio de uma guerra! Temos mais o que fazer. Temos que acabar com todo o exército inimigo! E amarrar um por um! E pisar em todos eles.

Neves – Guerra, Guerra, Guerra. o general nunca falou de “amarrar” o inimigo. Você por acaso já viu isso em algum lugar do manual? Devemos sim, convencer as pessoas para se alistarem, e aumentar o exército. Sabe que essa é uma idéia muito melhor?!

Guerra – Você sugere que não façamos nada? Absolutamente nada?

Neves – É. Por que não? Tem, tanta gente para se alistar e a gente perdendo tempo para resgatar o soldado Silva.

Guerra – é... mas e a missão?

Neves – Ué, a missão continua, só que vamos aproveitar que estamos aqui, e realizar outra missão, até o carcará aparecer. Ta entendendo?

Guerra – Mais ou menos, mas de certa forma até concordo contigo. Esse soldado Silva é um incapacitado ao serviço militar. Como se deixa levar, depois de todo o conhecimento, de toda a preparação? Isso não existe!!

Neves – Vai ver ele nunca se entregou de coração ao serviço militar. Vai ver, ele não se enquadrava na vontade do General.

Guerra – Não creio nisso, não. Ele é um traidor! Um traidor!! Está preso porque quis, caiu na rede que nem um patinho. Não foi por falta de aviso, aposto que ele foi bem instruído no manual pelo Sargento do regimento dele. Ainda bem que ele não está mais no nosso meio para não contaminar ninguém.

Neves – E tem mais... ele é do mal. Por isso não está do nosso lado. É, ele já nasceu do mal. Se saiu de nós, era porque não era nosso!

Guerra – Droga! Você tem razão, ele pode estar do lado do inimigo.

Neves – É verdade!

Guerra – E tem mais, ele pode estar contra nós. Fique atento Neves. Observe ao seu redor, ele pode estar escondido por qualquer lugar

Neves – Relaxa, Guerra. Relaxa. Não leve as coisas ao extremo. Você não cansa nunca? Pare de ficar olhando pra tudo o que é lado ao mesmo tempo. Só tem a gente aqui. Vamos aproveitar e passar o tempo da seguinte forma...

Guerra – Quer dizer que não vamos mais usar as armas de ataque?

Neves – Que armas de ataque? Mas você não tem jeito mesmo, ein?! E tem mais, as armas não são para ataque, e sim para defesa.

Guerra – Não fale besteira, Neves. Estamos em uma guerra preparados para guerrear. Ir à luta. E não para ficar levando chumbo. Uma arma sem manusear é uma arma morta!

Neves – Não é nada disso, Guerra. A arma é para nos defender, ou seja, para permanecermos firmes, vivos. O capacete que nos protege dos ataques do inimigo. O colete a prova de bala que nos protege pela frente e por trás. Devemos confiar no general pois foi ele quem nos deu. A botina que protege nossos pés pra onde quer que andemos.

Guerra – E a arma?

Neves – Como eu falei, essa a gente usa pra se defender.

Guerra – Ah, que arma pra se defender o que?! Ela foi feita pra atirar. Atirar! Ela não é um escudo.

2ª Cena: Soldado Guerra, Soldado Neves e Marreco.

Neves – Bem da verdade, você não quer aceitar. Porque entender, você está entendendo.

Guerra – E como eu posso aceitar um absurdo desse? É Inaceitável!

Entra Marreco cantarolando, com uma toca de banho caseira, uma máscara e tubo, um pé de pato, bermuda e camiseta.

Marreco – Oi gente, tudo bem com vocês? Como o tempo está bonito hoje, ein?! A muito não havia um dia assim tão agradável. (Inspira) Sinta o ar puro...

Guerra – Quem é você?

Neves – O que você faz aqui?

Marreco – Ué, só estou de passagem. A propósito, podem me chamar de Marreco, não é o meu nome não, mas rapaziada me chama de Marreco, e está tudo bem! Pior e se me chama-se de pato-rouco ou piu-piu, aquele cabeçudo (sorri).

Guerra – E pra onde você pretende ir, dessa maneira?

Marreco – Hoje está um dia maravilhoso. O tempo azulzinho, um ótimo dia pra se ir à praia, Sabe como é que é, curtir a natureza, pegar um bronze... Relaxar.

Guerra – Rapaz, que praia? Você está no meio de uma guerra! Guerra!

Neves – Até concordo em aproveitar a vida, relaxar, mas não posso deixar de dizer que ainda não é bem o momento, entende?

Marreco – Ãh?! Ah, claro. Não só entendi como concordo também, afinal a gente vive no meio de uma guerra. E temos que matar um leão a cada dia pra sobreviver, não é? E eu sei que esse não é o momento, mas será daqui a pouco, quando eu chegar na praia (sorri), aí vai ser demais. Vocês não querem me acompanhar? Vocês estão um pouco tensos. E o mar é um relaxante natural, além de dar depois uma fome daquelas (sorri).

Guerra – Você nem ao menos está... está... protegido.

Neves – Um mínimo de proteção sequer.

Marreco – Mas estou prestando atenção. Bastante atenção. Nada foge (olha para um lado e para o outro) ao meu olhar de águia. Mas pode deixar comigo, esse caminho eu já conheço. Alias, é o caminho que eu mais conheço. E te mais uma coisinha (pega uma escova de dente), Estão vendo isso aqui?

Guerra – E o que tem isso?

Marreco – (Sorrindo) Isso aqui meu amigo, é a escova de dente do General! É sim! A escova que ele usou à dez anos atrás. Ela me protege contra as coisas do mal, entre elas: mal olhado, inveja, macumbaria, urucubaca, ziquizira, frieira, cecê e bicho de pé.

Neves – Rapaz, você não existe...

Guerra – Me diga uma coisa, rapaz. Tua cara não me é estranha, por acaso você já esteve no quartel, da segunda infantaria?

Marreco – Já. Todo o domingo eu vou lá ou vou pra quinta infantaria. Ah, é muito bom, eu gosto tanto de ir pra lá. Você é de lá?

Guerra – Sim, sou. Mas você só vai lá aos... domingos?

Marreco – As vezes, quando fica muito frio ou chove, aí fica mais difícil. Prefiro ficar debaixo das cobertas em casa, vendo um filmeinho, não tem coisa melhor.

Guerra – Não acredito no que estou ouvindo, não acredito no que estou ouvindo.

Neves – Nem eu. Mar... reco?

Marreco – Sim.

Neves – Você por acaso teve alguma preparação dentro do quartel?

Marreco – Preparação? Eu escutava muito as orientações dos sargentos. Cada orientação bonita. Eu gosto muito de ir ver todas as preparações. Ah! E quando começam a cantar o hino da bandeira, como é bom!...

Guerra – Você freqüenta o quartel, mas não é um soldado! Você escuta as orientações do sargento, mas não se preocupa em se preparar para a guerra! Você não tem nenhum compromisso com o general, rapaz!

Neves – Bom, mas pelo menos, ele vai de vez enquanto ao quartel, é melhor do que nada, não é?

Guerra – Esse indivíduo, nem ao menos está de uniforme. Cadê o capacete? Você não está a salvo com essa toquinha ridícula!E o calcado? Você acha que esse... esse... pé de pato, vai te proteger por onde você for? Vai te dar a devida tranqüilidade na hora dos vamos ver?

Marreco – É, mas dessa maneira aqui, ninguém me pega dentro d’água! Já imaginaram, um exército só de marrecos, batalhando contra o exército inimigo, dentro d’água? Ía ter muita gente bebendo água (sorri).

Guerra - E a arma? E a arma?

Marreco – Paz gente! Paz pra um mundo melhor! A gente só ouve falar de guerra, é assassinato, é morte. Temos é que ser a favor da paz, é o que o mundo todo precisa.

Neves – Ah, agora entendi porque seu apelido é Marreco. Marreco dentro d’água. Entendi. Boa, muito boa essa.

Guerra – (Chamando a atenção do Soldado Neves) Soldado Neves! Caro... Marreco, para o seu governo, nós só teremos paz no final dessa guerra, quando o General vier até aqui pra nos resgatar no meio desta selva. E é por isso que estamos aqui, pra guerrear, pra lutar, e pra vencer.

Neves – Guerra, nós já temos a vitória. Não precisamos gastar tanta energia assim. Já somos escolhidos do General mesmo pra fazer parte do batalhão.

Guerra – A vitória é confirmada somente quando a guerra acabar, soldado Neves.

Neves – A vitória já é nossa! E isso ninguém tira, soldado Guerra.

Guerra – Aquele que permanecer em pé até o final, este será vitorioso, Soldado Neves.

Marreco – Por favor gente, se acalmem, você não são... inimigos! São amigo. Amigos, entendem? Amigos, acho eu...

Guerra e Neves – Você ao menos carrega o seu manual?

Marreco – Não.

Guerra e Neves – e o rádio de comunicação?

Marreco – Também não. Olha, eu trouxe um i-pode, é pra descontrair um pouco. Tenho aqui também palavras cruzadas, um gibi, alguém quer ler? Ah, mas eu tenho bananas. Vocês querem? (Descasca uma banana pra comer) Está uma delícia, docinha.

Guerra – (Aos gritos) Jamais!! Jamais!!

Marreco – tudo bem, gosto não se discute, né?! E eu respeito o gosto de cada um. Tem gente que gosta de comer brócolis, caldo de mocotó, dobradinha, né?! Fazer o que?...

Guerra – Não é uma questão de gosto!...

Neves – Fique calmo Guerra. Não adianta ficar nervoso com o rapaz.

Guerra – Eu vou é ficar de olho aqui, pra ver se o inimigo se aproxima. Alguém tem que ficar vigiando.

Marreco – Put’s, se eu soubesse teria trazido maracujá. (a parte para o Neves) Ele é sempre assim? Não é bom ser assim, acaba refletindo no próprio corpo. Eu conheci uma pessoa que era nervosa e acabou tendo chulé. Ele colocava talquinho no pé e nada! Vê se póde.

Neves – O pior é que é. Mas meu rapaz, me diga. Você ao menos conhece o General?

Marreco – Claro. Eu só ouso falar muito dele nos quartéis.

Neves – Mas você já ouviu falar ou o conhece pessoalmente?

Marreco – Bom, eu só ouvi falar dele. Dizem que ele é cem por cento. É um cara que é muito bom no que faz. E que é justo, fiel, compassivo, e poderoso! Todos tem que tê-lo como exemplo.

Guerra – Soldado Neves, pergunta se ele já fez o juramento da bandeira, pergunta!

Neves – Você já fez?

Marreco – (Ressabiado) Já.

Neves – Mas você fez do coração ou da boca pra fora?

Marreco – Sabe como é... eu vi todo mundo fazer, aí eu também fiz.

Guerra – Protejam-se! Acho que vi o inimigo se aproximar. (Soldado neves e o Marreco se jogam atrás da trincheira), Fiquem atentos que eles devem estar vindo pra cá.

Marreco – Eles?

Guerra – Pode ser uma legião! Soldado Neves, pegue o rádio e entre em contato com o General.

Neves – Ok. (pega o rádio) General, cambio! General responda, cambio! (mexe no rádio) General? General, responda, cambio? (Para Soldado Guerra) Ele não está respondendo. Pegue seu rádio e tente você Soldado Guerra.

Guerra – Ok. (Pega o rádio e fica olhando pra ele por um instante)

Marreco – eu não estou vendo ninguém. Nem ao menos as folhas se mexem.

Neves – É, mas podem estar esperando o momento certo para atacar a gente, de uma vez só. E aí, soldado Guerra? (observa o soldado Guerra olhando para o rádio) Soldado Guerra, algum problema com o rádio?

Guerra – Não.

Neves – Então por que você não tentou falar com o general?

Guerra – Eu não vou falar, muito menos falar alto. Pode haver algum inimigo por perto e ouvir tudo. Ou pode ter colocado um grampo aqui.

Neves – Mas... mas... mas... ah, deixa pra lá! Vocês deste regimento novo...

Guerra – (toma posição também) Já que o General não nos responde, nos dando as devidas orientações, ou mandando reforços, vamos ter que agir por conta própria, não temos tempo para esperar.

Cena 3: Soldado Guerra, soldado Neves, Marreco e o inimigo.

O inimigo entra com uma máscara ninja, também trajando o uniforme do exército, com pouca diferença. Ele entra atrás de um arbusto.

Neves – Soldado Neves, você tem certeza que viu alguma coisa? Eu não estou vendo ninguém.

Guerra – Eu conheço um inimigo longe. Eles devem estar camuflados.

Marreco – Atchim! Atchim!... Atchim!

Guerra – Olha só. Isso é coisa do inimigo! Isso é coisa do inimigo!

O inimigo fica surpreso, e com gestos menciona que não fez nada.

Marreco – que nada, só foi um espirro (sorri). Você está brincando. Oh, louco!

Guerra – Você está rogando, para eu ficar louco?! Está sendo usado pelo inimigo!

O inimigo põe as mãos nos quadris, depois coça a nuca sem entender a acusação.

Guerra - (Aponta a arma em direção ao Marreco) De que lado você está afinal?

Marreco – Do lado de vocês!! Do lado de vocês!! Não, não era aquilo que eu quis dizer...

Neves – Guerra, não é nada disso. O rapaz não falou por mal. É que você tem muitas manias, só isso. E outra coisa, ele não pode fazer nada, nada com a gente.

Guerra – Manias, eu? Manias, eu? Só eu sei o que ele pode fazer, usando “essas pessoas” sem nenhum compromisso com general.

Nesse ínterim, o inimigo troca os rádios dele com o do soldado Guerra.

Neves – Definitivamente, não há perigo algum por aqui.

Marreco – Eu também não estou vendo motivo nenhum para ficarmos preocupados, (olhando para Guerra) apesar de que, é sempre bom ficarmos atentos, não é? Sabe como é, os imprevistos desta vida. Já pensou se fossemos que nem os peixes? Que dormem de olhos abertos. Ia ser uma loucura! (Sorri) A gente não ia precisar mais sonhar, era só dormir em frente a TV... caramba! Imagina quantos filmes agente ia conseguir ver (sorri).

Inimigo – (aperta um botão no rádio)

Guerra – O rádio está tocando! O rádio está tocando! (fala ao rádio) Câmbio.

Inimigo – Câmbio. Soldado. você tem que imitar cachorro. Imitar cachorro!

Guerra – General?

Inimigo - Imitar cachorro. Imitar cachorro! Au! Au! Au! Desligo, tchau.

Guerra – Ok, meu General, Tchau... (começa a imitar cachorro)

Neves – O que o General disse?

Guerra – Para eu imitar um cachorro.

Neves – E pra que isso? Que proveito tem isso?

Marreco – Dependendo da raça do cachorro, né?! Só não pode ser pit-bull!!
Agora se for um pintch... aí tudo bem! (Sorri)

Neves – Você tem certeza de que foi o general quem falou?

Guerra – Claro, eu conheço a voz do general.

Neves – Mas e a vigilância? A prudência? Como fica?

Marreco – Deve ser alguma tática, vai ver os inimigos tem medo de cachorro doido.

Guerra – (Rosna pro Marreco) Cachorro doido? Você vai ver a mordida do cachorro doido já - já.

Neves – (Para o Marreco) Rapaz, vê se aquilo ali é uma árvore, uma bicicleta ou uma banca de jornal?

O inimigo também vai ver junto com os demais, e o soldado Guerra começa a rir sem para.

Neves – está rindo de que, Guerra?

Marreco – Conta pra gente, pra gente ri um pouquinho também.

Neves – (para o Marreco) Deve ter sido muito engraçado.

Marreco – Deve ser as pulgas do cachorro doido, fazendo cócegas nele. (Sorri)

Soldado Neves e o Marreco, ficam vendo o soldado Guerra rindo, rindo, rindo, e passam a rir do soldado Guerra, até todos cansarem. O inimigo coça a cabeça, sem entender o que está acontecendo.

Marreco – (Recuperando o ar) Mas por que você estava rindo tanto?

Neves – (Ainda um pouco risonho) É? por que?

Guerra – (Entre risos) Isso é coisa do general. É coisa do general.

Neves – Sei não. Isso está parecendo coisa do inimigo, isso sim.

O inimigo com gestos, não concorda com o comentário.

Marreco – (Cai na gargalhada) Do inimigo.

Guerra – (Irado) Do inimigo coisa nenhuma! Do inimigo coisa nenhuma! Eu sirvo ao meu general, e não me deixo levar pelos adversários!

Neves – Então, soldado Guerra, me diga, qual o objetivo disso tudo? Que vantagem isso trás para o nosso exército?

Marreco – Achei muito legal! Anima a situação! É bom ficar bem descontraído, faz bem pro corpo e pra alma.

Inimigo – Cale a boca cara de pato!

Guerra – Cale a boca cara de pato! Soldado Neves, isso é muito especial, e não é pra qualquer um, não. Você tem que se entregar por completo ao exercício.

Neves – Isso não está no manual, está? Você já viu os soldados, sargentos, capitães de outras épocas fazerem tal coisa?

Inimigo – Você está pensando que é quem aqui?

Guerra – Você está pensando que é quem aqui?

Inimigo – Você é uma besta quadrada!

Guerra – Você é uma besta quadrada!

Inimigo – E você é um jumento cego!

Neves – E você é um jumento cego!

Inimigo – (fica entre os dois) Eu vou quebrar a tua cara e a da pata choca aí!

Guerra – Eu vou quebrar a tua cara e a da pata choca aí!

Marreco – Pata choca? Podia bem ser, pato... choco.

Inimigo e Neves – E eu vou te matar se não calar essa boca!

Marreco – calma gente, não é por aí.

Inimigo e Guerra – Não calo, não calo, não calo! Lá-lá-lá-lá-lá-lá.

Guerra - Vem se meter a besta pra cima de mim, te meto uma bala entre os olhos!

Marreco – Que é isso gente? Parem por favor!

O inimigo se diverte

Neves – Nunca ninguém falou assim de mim e ficou vivo pra contar história.

Guerra – Nunca deixei um defunto falar tanto perto de mim.

O soldado Guerra e o soldado Neves soltam as armas e começam a brigar. Marreco meio sem saber o que fazer, tenta de alguma forma apartar a briga. O inimigo pega o rádio que era do soldado guerra e se comunica com o general.

Inimigo – Posso acabar com os seus dois soldados? Eles cometem muitos erros: Se iram, se orgulham, mentem, brigam e se matam, etc... (pausa para ouvir) Não tocar neles, que eles são seus? (Afasta o rádio e desliga) Droga! Droga! Droga! (olha para o Marreco, sorri, vai e pega a casca de banana que o Marreco jogou fora e a põe em lugar específico. Marreco escorrega nela e cai.

Neves – (Em meio a briga) Para Guerra! Para Guerra! Aconteceu alguma coisa com o rapaz!

Guerra – (Parando de brigar, e ficando assustado) O que houve com ele?

Inimigo – Ele escorregou na casca de banana, caiu e bateu com a cabeça no chão.

Neves – Ele está morto?

Guerra – Ele não se mexe. (Se abaixa e vai até o Marreco) Rapaz? Rapaz?

Inimigo – (Se abaixa, põe a mão em Marreco) Este já era! Empacotou. Morreu.

Guerra – Foi a maldita da casca de banana. Foi a maldita da casca de banana.

Neves – Ele era um bom rapaz, muito bom rapaz.

Guerra – Essa guerra maldita! (Gritando) Essa guerra maldita!! (E começa a chorar).

Inimigo – Se vocês não tivessem brigado...

Neves – É verdade. Se a gente não tivesse brigado, nada disso teria ocorrido.

Inimigo – (para o Guerra) Você não presta! Você não é nada! Nada!

Guerra – É verdade. Eu não sou nada nessa vida! Eu sou um inútil!

Inimigo – Desistam de tudo. Porque vocês vivem no erro!

Neves – tem razão. Eu vou arrumar tudo e ir embora, vou sair do exército.

Guerra – O general nunca me perdoaria. Eu sou um fraco. Um incapaz! (Chora).

4ª Cena: O soldado Guerra, soldado Neves, o inimigo, Marreco morto e soldado Cruz.

Cruz – O que está havendo por aqui?

Neves – (Arrumando as coisas) Eu vou embora do exército! Chega, não dá mais pra mim. Eu vou voltar pra casa da mamãe.

Guerra – Eu não presto pra esta vida. Eu não presto pra nada.

Cruz – Vocês não percebem que o inimigo está infiltrado entre vocês? (Põe a arma em direção ao inimigo, soldado Guerra e soldado Neves, largam as armas e levantam as mãos) Em nome do general dos exércitos, com a autoridade que ele me concedeu, ordeno que saia daqui, e não voltes mais! (O inimigo retirando a máscara, mostra o rosto horripilante e solta um berro aterrorizante, cai de medo no chão, mas rapidamente se levanta e foge aos gritos de dor. Os soldados Guerra e Neves, olham assustados para o Soldado Cruz que abaixa a arma) Pronto! Agora o ambiente está limpo.

Neves – Que susto! Você quer me matar? (Desaba ao chão aliviado)

Guerra – O que é isso, soldado, você está maluco?

Cruz – (Para si mesmo) Essa casta só com contato com o general diariamente e um preparação especial... Havia um inimigo aqui!

Guerra e Neves – Aqui? Isso é um absurdo!

Guerra para Neves – E a gente não ia ver?

Neves para Guerra – É lógico, guerra!

Cruz - (Enquanto os dois soldados voltam a fazer o que faziam antes, o soldado cruz observa o Marreco morto ao chão). O que aconteceu com este jovem aqui?

Guerra – Morreu. Morreu por nossa culpa.

Neves – Estávamos brigando, ele tentava nos apartar, escorregou na casca de banana, bateu com a cabeça e...

Cruz – (Observa-os por um instante) Parem vocês dois e venham aqui. Eu sou o soldado Cruz e venho em nome do Senhor dos exércitos. (Eles param e observam o soldado Cruz) Bem que eu pressenti que tinha alguma coisa de estranho por aqui. E vocês, meus companheiros, nem se deram conta de que tudo o que estava acontecendo era em decorrência do adversário aqui. Ele conseguiu distrair, se infiltrar, enganar e envenenar os seus corações. E ainda... matou uma pessoa. O que houve com vocês?

Os dois soldados se entreolham

Guerra – Olha eu vou te falar o que houve, Nós estávamos aqui planejando uma estratégia para resgatar o soldado Silva, mas na hora apareceu esse pavão aí com essa fantasia de bloco de carnaval, dizendo que ia a praia. Que ia a praia! Dá pra acreditar? De certo foi a mando do adversário, para nos distrair e pronto! Deu no que deu, Morreu.

Neves – Ele até que era um bom sujeito. Não tinha noção das coisas, mas era gente boa.

Guerra – Mas como um sujeito fica no meio da guerra dessa maneira, à passeio, sem proteção alguma?

Neves – É verdade... ía de vez enquanto ao quartel, mas não aprendia nada... e nem se interessava em fazer alguma coisa em pró da nação.

Cruz – Soldados, e vocês nem ao menos tentaram ajudá-lo, instruí-lo ?

Guerra – Fizemos o que podíamos, bem que o nosso objetivo aqui é bem outro. É o resgate daquele soldado que... que... desertou. Traidor!...

Neves – É o soldado Silva. Soldado desobediente, um mal soldado. Esse não serve pra nossa tropa.

Cruz – Quem deve decidir isso é o general, vocês não acham? Pensem bem, se foi ele quem nos confiou essa ação, ele sabe muito mais do que a gente no que está fazendo, não é verdade?

Neves – Sim... isso é verdade.

Guerra – Positivo. Concordo...

Cruz – Muitos soldados de valor, feridos, são esquecidos a beira da morte nas trincheiras. E precisamos resgatá-los. E outra coisa, nós também podemos errar, e um dia precisar de ajuda.

Guerra – Jamais! Eu nunquinha, jamais!

Neves – Péra lá, Cruz, isso não é pra mim! Não nos compare com esse soldado inútil.

Cruz – Quem precisa de inimigos com você dois atirando acusações? Gostariam que me respondessem, se você não gostasse do seu nariz, você o arrancaria e jogaria fora?

Guerra – Ora, ora. Claro que não! Só um louco faria isso!

Cruz - E você, se você não gosta das suas orelhas, jogaria as duas fora?

Neves – De jeito nenhum! Não são lá grande coisas mas... fazem parte do meu corpo.

Cruz – Então, o soldado Silva faz parte do corpo do exército, assim como cada um de nós. Soldados, nós temos que seguir e obedecer ao general, assim como ele que veio para servir o exército e não para ser servido. (o rádio do soldado Cruz apita) General? Perfeito! Entendido! Deixa comigo! EKSS, FOXTROT, QUEBEC, 777, ALFA, DELTA, ECHO, 777. PAPA, KILO, TANGO, farei tudo segundo a tua vontade, sei que em ti posso confiar. Obrigado general! O senhor é tremendo! Desligo, Câmbio!

Neves – Você sabe falar o alfabeto universal?

Guerra – O que o general disse? Falou algo sobre mim, Falou?

Cruz – Fiquem aqui. Eu tenho que ir agora resgatar o soldado Silva.

Guerra – Mas eu vou com você, Cruz! Estou pronto pra guerrear!!

Cruz – Não! O general falou que tenho que ir só.

Guerra – Vai só? Eu vou ficar... aqui?...

Neves – A gente fica na retaguarda. Pode ir! Pode ir! Que agente fica por aqui mesmo.

Cruz - Fiquem entrando em contato com o general, enquanto eu vou lá. Tchau!

Guerra – Eu vou ficar aqui?... aqui?... Eu?...

Neves – Tome cuidado, soldado Cruz.

Cruz – (Saindo) Deixa comigo. (começa a cantarolar um hino cheio de alegria, se prepara e sai).

6ª Cena – Soldado Guerra, soldado Neves e o Marreco morto.

Os dois soldado ficam observando calados por algum tempo.

Neves – O que você acha, Guerra?

Guerra – Sei não. Sei não.

Neves – Sei não, o que?

Guerra – Eu deveria ter ido com ele.

Neves – O general falou para ele ir só. Por que será?

Guerra – Sei não. Sei não.

Neves – É, mas vamos esperar aqui, bem quietinhos. (Boceja).

Guerra – Mas ele está demorando.

Neves – (Se acomodando) Mas... mas ele acabou de sair daqui!

Guerra – É mesmo... mas dura uma eternidade.

Neves – Senta um pouco aí, Guerra. Ele sabe se virar sozinho.

Guerra – (sentando-se e se ajeitando) Não há muito o que fazer, não é mesmo?!

Neves – Puxa, parece que quebrei uma pedreira inteira. (começa a cochilar).

Guerra – É a agitação dessa guerra! Também estou bem cansado. (Começa a bocejar).

Neves – Eu acho que vou ficar um pouco quieto, aqui.

Guerra – Pode ficar. Eu fico atento aqui.

Neves – Qualquer coisa me chama. Vou descansar um pouco as minhas vistas.

Guerra – Ok. Eu vou ficar de olhos bem abertos. (fecha os olhos), ficarei bem alerta. Não se preocupa.

Os dois soldados adormecem. E se escuta rajadas de metralhadora, aviões, bombas. Anjos passam em direção ao soldado Cruz. Depois de um tempo, cessaram e tudo volta à calmaria.

7ª Cena – Soldado Guerra, soldado Neves, Marreco morto, soldado Cruz e Soldado Silva.

Soldado Silva entra todo arrebentado e gritando de dor, sendo ajudado pelo soldado Cruz.

Cruz – Guerra, Neves. Ajudem aqui!

Silva – Ai! Ai!...

Soldado Guerra e soldado Neves acordam.

Guerra para Neves – Você escutou isso?

Neves – Parece ser a voz do Soldado Cruz. E a outra?

Cruz – Soldados, não há mais perigo, a batalha cessou, podem vir ajudar. Estou com o Soldado Silva.

Silva – Ai! Ai!...

Neves para o soldado Guerra – É o soldado Cruz, com o soldado Silva!

Guerra – Será? E se for uma armação do inimigo?

Cruz para Silva – Aquente soldado. Você ficará bem. Cadê esses soldados? Soldados! Soldados!

Silva – Ai! Ai!...

Neves – Eu vou lá ajudar!

Guerra – Eu te dou cobertura. Eu te dou cobertura!

Neves vai ajudar o soldado Cruz a carregar o soldado Silva. Enquanto o soldado Guerra fica atrás da trincheira com a arma em punho apontada para eles.

Neves – Venha! Vamos! Sente um pouco aqui. Cuidado. Cruz, como você conseguiu?

Cruz – Neves, não foi fácil. A batalha durou a noite inteira. Vocês devem ter visto. Ainda bem que eu estava bem equipado e preparado.

Silva – Ai! Ai!...

Cruz – O que é isso, soldado Guerra? Ta maluco? Por que aponta essa arma?

Guerra – Como posso ter certeza de que não é uma armação?

Cruz – Ora, deixe de tolice homem, você nem mais sabe diferenciar uma coisa da outra.

Neves – Liga não. Ele é assim mesmo!

Guerra – Assim mesmo como? Assim mesmo como?

Cruz – Você nem ao menos sabia que o inimigo estava aqui entre vocês. E agora está com essa marra toda. Ora, Guerra, vai ler mais o manual, e vai se comunicar mais com o General. Agora, largue essa arma e vá pegar a água e o pão na minha mochila, que o General enviou exclusivamente ao soldado Silva. E põe esse corpo pra mais longe.

Guerra larga a arma e vai atende-lo. Depois Guerra e Neves puxam o corpo do Marreco para mais longe.

Silva – Ai! Ai!... Pensei que ninguém mais se importava comigo! Aí! Aí!... Pensei que eu fosse morrer. Ai! Ai!...

Neves – Aquenta firme soldado!

Cruz – O general nunca se esquece dos seus! Ele nos enviou para resgatá-lo, e levá-lo até ele. Ele sarará as suas feridas. Agora beba a água, vai começar a se sentir melhor.

Silva – Eu não mereço isso! Aí! Ai!... Fiz tudo errado...

Neves – Ah! Isso é verdade! Você traiu o general.

Guerra – Traiu a todos nós, traiu a nossa confiança!

Cruz – Chega! Já não basta o sofrimento deste rapaz, e ainda querem enterrá-lo vivo?
Não é hora pra isso! Ele precisa de todo o nosso apoio, de nossa ajuda. O general quer vê-lo recuperado.

Silva – Mais água! Mais água!

Cruz – Vai com calma, soldado. Coma um pouco também, que você deve estar com muita fome.

Silva – Estou...

Neves – Então, soldado Silva, por que raios, você abandonou o exército?

Guerra – É! Por que você desertou?

Silva – Eu era um soldado firme. Ai, como doi a minha perna! Cumpria as minhas funções. Lia com freqüência o manual, conversava diariamente com o general e me preparava muito bem para situações especiais...

Neves – Então, homem, por que largou tudo e foi embora?

Guerra – Aposto que tem mulher no meio...

Cruz – Deixe-o falar de uma vez.

Silva – Eu nunca pensei em abandonar ao exército, muito menos ao general, ainda mais depois de tudo o que ele fez por mim... Ai, minha costas. Me ajudem aqui, pra ficar numa posição melhor (Neves e Cruz o ajuda). Foi uma armadilha que eu caí.

Guerra – Eu sabia. Esse inimigo é filho da mãe!!

Neves – Filho da mãe, Guerra?

Guerra – É... é o modo de falar.

Cruz – vocês dois, por favor! Deixe o soldado Silva descansar um pouco, pois ainda vamos andar até o quartel.

Silva – Não, tudo bem! Eu posso explicar, será até melhor assim. Bom, vocês sabem como é gostoso um churrasco.

Neves – Opa! Opa! Muito bom! Um churrasquinho com aquela picanha ao ponto... não tem coisa melhor.

Guerra – Você está maluco, Neves? Você participa de churrasco, e come carne?

Neves – Ué?! Mas isso não tem nada de mais. É uma alimentação como outra qualquer.

Guerra – Não ouviste o que o general falou, sobre a tentação da carne, ein, ein?

Neves – Mas... mas...

Cruz – Vocês dois, querem deixar o soldado Silva contar a sua história?

Silva – Pois bem, em um belo dia, depois de uma missão perigosa, em que eu tive que me preparar muito, no final, estava cansado e morrendo de fome. Aí apareceu uma mulher no caminho...

Guerra para Neves – Não falei? Não falei que tinha mulher no meio? É sempre a mesma coisa...

Neves – Não generalize, Guerra. Tem mulheres que são ajudadoras.

Silva – É, mas não foi a mulher em si, a causa. Ela só vendia espetinho de carne,

Neves – E daí? Só por isso?

Guerra – E você acha “só” ? Você não sabe que tudo é lícito, mas nem tudo lhe convêm?

Neves – Mas... mas...

Cruz – Continue Silva (colocando um pano no braço do Silva)

Silva – Ai, mais devagar. Bom, Eu obviamente comi, porque estava matando cachorro a grito. Me lembro como se fosse hoje. Depois que eu descobri que era carne de gato!

Todos – Carne de gato?

Neves – Essa sim é filha da mãe! Isso não se faz.

Guerra – E depois sou eu quem falo demais.

Cruz – Deixe-me ver essa perna. Hum...

Silva – A carne estava muito salgada e apimentada... Ai! Ai! Com dói!

Cruz – Aquenta rapaz. Tenho que dar um jeito nisso antes da gente prosseguir.

Guerra – Essa mulher era do exército inimigo. Era a própria inimiga em pessoa. Merecia a morte, uma morte cruel e vagarosa!...

Neves – Soldado Guerra!

Guerra – Desculpe-me, Mas quando se trata do inimigo, eu fico... indignado.

Silva – Não, ela não era do exército inimigo. Apenas era uma mulher que tentava descolar um dinheiro pra sobreviver. Infelizmente desta maneira...

Guerra – O dinheiro. O maldito dinheiro! O mal desse século!

Neves – Eu já não vejo desta forma, não. O dinheiro pode servir tanto pra coisas boas, tanto para as más.

Guerra – O seu manual não deve ser igual ao meu, não pode ser.

Neves – O seu é que não deve ser igual ao meu.

Cruz – Pronto, Silva! Você vai ficar novinho em folha. Agora é só recuperar as suas forças para prosseguirmos.

Silva – Ok, Cruz! Vou ficar só mais um pouco aqui sentado. Mas como estava falando, eu precisava beber alguma coisa urgente, a minha garganta estava pegando fogo. pedi um copo d’água, suco, refrigerante... qualquer coisa. Mas não tinha nada, só tinha cerveja!

Guerra – Eu morreria de sede!...

Cruz – Você só não morreria é de tédio, Guerra.

Neves – E o que é que tem beber um pouco de cerveja ou até mesmo vinho? O mal não é o que entra pela boca do homem, e sim o que sai.

Cruz – Vocês precisam voltar para as aulas de reciclagem do quartel. Continue, Soldado. Vou entrar em contato com o General (Pega o rádio).

Silva – Não tive escolha, bebi. Tomei uma garrafa e nada de melhorar, tomei duas, e nada. Três, quatro, cinco... enfim. Uma hora passou, e a boca ficou anestesiada.

Guerra – Imagino!...

Silva – Nesse período, apareceram alguns homens, conhecidos da mulher, a tal que vendia o espetinho. Resolveram tocar um pagode, para animar o ambiente.

Neves – Até aí, isso é normal... nada de mais.

Guerra – Ta maluco?! Ta maluco?! Pagode é coisa do inimigo! Aquela batucada toda, me lembra os terrenos em que o inimigo se prepara para nos atormentar.

Neves – Que isso? Não tem nada haver. Pagode é apenas um estilo musical. Já fizeram até pagode para o general.

Guerra – Isso é loucura! Misturam as coisas do inimigo com as coisas do general.

Cruz – Senhor?! Senhor. Obrigado a ajuda que me concedeu. Sozinho eu não conseguiria. Sei. Sim senhor. Saiba Senhor, que pode contar comigo, que estou sempre pronto a lhe servir... (e vai diminuindo o volume da voz).

Silva – Era um pessoal muito simpático por sinal. Então, eu tomava a cerveja e ouvia o pagode, tomava cerveja e ouvia pagode. Até que?!

Neves e Guerra – Até que?

Silva – Eu fiquei meio tonto, alegre, sei lá. Sei que eles tocavam, e outros dançavam. Então vieram duas mulheres que sambavam, e me convidaram para dançar. Fiquei meio sem jeito de recusar, e aceitei.

Guerra – Olha a mulher no meio de novo... Estou falando...

Silva – Não vi nada de mal. Estava bem divertido, até que?

Neves e Guerra – Até que?!

Silva – Chegou um sujeito e cochichou alguma coisa no ouvido de uma delas. Imediatamente ela o esbofeteou. Aí, pronto!

Neves – Aí pronto, o que?

Silva – Começou a discussão, e começaram a brigar. Resolvi sair de lá, eu e a minha parceira de samba...

Guerra – Parceira de samba? Você disse, parceira do Samba?

Silva - ...naquela hora em que estava lá, claro. Quando empurraram a coitada que caiu no chão. Imediatamente, num impulso, empurrei a quem havia empurrado. O sujeito pegou uma faca e veio me ameaçando. Eu dei no pé!!

Neves – Ainda bem!

Silva – Mas o pior ainda está por vir.

Todos – Ainda tem mais?

Silva – Aterrorizado, entrei no carro e arranquei de lá.

Guerra – Pelo menos disso, você se livrou. Pelo menos disso.

Silva – Arranquei de lá toda a traseira de uma BMW parado na frente do meu carro. E imagine só, era de um traficante!

Neves – Ai, ai, ai... Ai, ai, ai...

Guerra – Eu sabia que ia dar nisso! Eu sabia que ia dar nisso!

Neves – E coisa terrível! Nem imagino como deve ter se sentido.

Silva – Pois é. Ele me falou que eu tinha que pagar o conserto do carro dele. Só que eu não tinha um tostão. Ele me deu um prazo de... duas horas para conseguir o dinheiro para o conserto do carro.

Neves – Isso é muito pouco tempo. E o que você fez?

Guerra – Eu até imagino! Até imagino!

Silva – só tinha uma alternativa, fui a uma casa de jogos e com o pouco que eu tinha fui ver se ganhava alguma coisa pra me livrar do traficante. Foi a primeira coisa que pensei.

Neves – Ah, mas um joguinho inofensivo, assim como buraco, boliche etc. não faz mal. E ainda mais, porque era por uma boa causa.

Guerra – Jogo é jogo! Não tem essa de jogo inofensivo ou ofensivo. Joguinho ou jogão. Isso é um erro imperdoável! Nem jogo de futebol! Nem jogo de futebol!

Cruz – ...bom, general, daqui a pouco estaremos indo, Desligo, câmbio!

Silva – Nunca joguei na vida. Me lembro que ganhei um pouco de dinheiro. Mas ainda não era o suficiente. Então, como eu estava com sorte, resolvi apostar tudo, e...

Todos – E?

Silva – E...

Todos – E?

Silva – Perdi tudo! Foi aí que resolvi fazer uma loucura. Passei um cheque sem fundos para poder continuar apostando, eu estava desesperado!

Cruz – Um abismo leva a outro abismo.

Guerra – Eu não vou falar mais nada... Eu não vou falar mais nada!

Neves e Cruz – Acho bom.

Guerra – Eu não vou nem falar que isso tudo é um absurdo! Inconcebível! Inconcebível!

Silva – Hoje eu sei... mas eu não via outra saída na hora. Apostei tudo e... perdi o que eu tinha e o que eu não tinha.

Neves – E aí, o que você fez?

Guerra – Aposto que foi assaltar, vender drogas, ou...

Silva – Não. Nada disso. Fui até o traficante, tentar um acordo amigável.

Neves – E o que aconteceu?

Cruz – Ele deu mais algum prazo?


Silva – Não. Me deu, meu deu vários tiros, isso sim! Só que nenhum pegou em mim. Estou fugindo dele até agora. Tentei recorrer aos amigos, todos sumiram.

Neves – Por que não foi até o Sargento da tua companhia? Aos soldados do teu regimento?

Silva – E quem disse que não fui? Mas ninguém estendeu-me a mão! Pelo contrário, me excluíram do círculo deles. Eu não tinha mais a quem recorrer. Eu fiquei sem nada, e sem ninguém. Sem casa, com frio, com fome e com sede.

Cruz – É, mas agora você está salvo, graças ao general. Agora temos que ir até o quartel. Me ajudem aqui vocês dois.

Silva – Obrigado a vocês todos por me ajudarem. Eu já não tinha mais condições, nem forças para voltar. Estou completamente arrependido do que fiz. Se não fosse por todos vocês, eu não sei o que seria de mim (chora).

Cruz – Quando chegar-mos lá, você agradece ao general. Você sabe que só ele é digno de receber toda a honra.

Neves – E por que não recorreu ao general? Por que?

Silva – Eu pensei que o general não queria mais saber de mim. Mas agora eu sei que ele é muito bom. Muito bom pra mim.

Cruz – O general não desistiu de você. E vai te ajudar. Você crer nisso?

Silva – Sim. Creio!

Cruz – Bom vamos agora vamos embora. Se apóia em mim. E você ficam aqui por enquanto.

Guerra – Ficaremos firmes aqui, soldado Cruz! Ficaremos firmes aqui!

8ª Cena – Soldado Guerra, soldado Neves, Marreco morto.

Neves – Missão cumprida!

Guerra – Você não fez nada!

Neves – Fiz mais do que você!

Guerra – Você está delirando! Espere! (Se joga atrás da trincheira com a arma em punho).

Neves – O que foi, homem?

Guerra – Escutei um barulho, pode ser de novo o inimigo.

Neves – Eu estou olhando. Não tem nada! Não tem nada. Só nos dois, (olha para o Marreco) três.

Guerra – Você não tem jeito mesmo. A Qualquer hora leva um tiro aí.

Neves – Relaxa! (pega uma banana e descasca).

Guerra – O que é isso? O que você está fazendo?

Neves – Comendo banana.

Guerra – Comendo banana??

Neves – Sim. Vou comer banana.

Guerra – Isso é pior do que levar um tiro.

Neves – Mas é apenas uma banana.

Guerra – Não é apenas uma banana! É muito mais do que isso!

Neves – (Olhando pra banana) O que por exemplo? Um abacate? Um melão? Uma melancia?

Guerra – Não! Não! Não é nada disso! Você nunca ouviu falar do Evolucionismo?

Neves – Já.

Guerra – E o que era Evolucionismos? Não fala, não! Deixa que eu falo. Trata-se da ciência que estuda a evolução humana. Aquele assunto de que o homem veio do macaco, e a mulher da macaca.

Neves – (Olhando pra banana) E o que tem a banana com isso?

Guerra – Ela é amaldiçoada!!

Neves – Amaldiçoada?

Guerra – Sim! Amaldiçoada! Pois, os macacos e as macacas, comiam banana. Como comem até hoje.

Neves – Mas eu não sou macaco. E muito menos... macaca.

Guerra – Claro que não é!! Claro que não é!! Mas esse é um objeto amaldiçoado desde que inventaram tal maluquice.

Neves – Mas se inventaram essa maluquice toda, então a banana está isenta desta maldição.

Guerra – Olha para o Marreco. Como foi que o Marreco virou defunto?

Neves – Escorregou na casca... de... banana.

Guerra – Então?

Neves – Eu tenho uma opinião sobre isso.

Guerra – Lá vem você de novo! Lá vem você de novo!

E os dois continuam a discussão até o fechar das cortinas.


Fim.

E-mail: mcs.braga@hotmail.com